A cartilagem é um tipo especial de tecido conjuntivo denso, denominado tecido cartilaginoso. A seguir, estudaremos os tipos de cartilagem, sua anatomia e funções em um resumo completo.
As variedades de tecido conjuntivo denso até agora estudadas, embora possuam grande resistência à tensão, cederiam se empregadas com a finalidade de suportar peso.
A cartilagem foi engendrada para suprir esta deficiência. Possui uma rede muito compacta de fibras colágenas, e em alguns casos, fibras elásticas, que lhe conferem resistência à tensão. Além disso as fibras estão incluídas e talvez mesmo quimicamente unidas, em uma considerável quantidade de um tipo amorfo de substância intercelular aí existente no estado de um gel de consistência muito firme.
Esse arranjo confere à substância intercelular da cartilagem uma consistência semelhante a um tipo de “plástico” muito rijo e desta forma capaz de suportar certo peso sem vergar-se. E como alguns dos mais modernos “plásticos”, as superfícies das cartilagens podem receber forte polimento, daí a razão pela qual, se lubrificadas, movem-se estas superfícies de encontro umas às outras com pouquíssimo atrito e desgaste.
Tipos de cartilagem
A cartilagem, consequentemente, está adaptada de modo magnífico à função de cobrir as extremidades articulares dos ossos nas articulações móveis. Pode-se classifica-la em três tipos de cartilagem principais:
- Hialina;
- Elástica;
- Fibrosa (fibro-cartilagem).
Cartilagem hialina
Dos três tipos presentes no corpo humano, a cartilagem hialina é a mais comum e a que melhor serve como protótipo do grupo. Daí a razão por que será estudada em primeiro lugar e pormenorizadamente, depois do que cada um dos outros tipos será descrito de modo sucinto. É encontrada no nariz, traqueia, brônquios e laringe.
A expressão “hialina” deriva do Grego “hyalos”, significando “vidro”. A cartilagem hialina é assim chamada porque tem, macroscopicamente, uma aparência translúcida, vítrea, nacarada. Esta aparência é inteiramente devida ao caráter especial da substância intercelular.
A cartilagem hialina consiste de células e de substância intercelular. As células são chamadas condrócitos e se localizam em pequenos espaços na substância intercelular, as lacunas. Em alguns casos, a lacuna não contém mais do que um condrócito. Em outros, um par, ou mesmo número maior de condrócitos.
Cartilagem elástica
Embora a hialina seja até certo ponto elástica, não é tão elástica como a que possui considerável quantidade de fibras elásticas em sua substância intercelular.
Em alguns lugares, por exemplo, na orelha e na epiglote, é desejável que esteja presente tecido rijo, embora seja muito elástico.
Nesses lugares é encontrada a cartilagem elástica. É parecida em muitos aspetos com a hialina, mas sua substância intercelular, além das fibras colágenas e do condroitino-sulfato, contém fibras elásticas que são disseminadas em toda sua extensão.
Fibrocartilagem
Como a hialina contém colágeno. Sua substância intercelular possui um certo grau de resistência à tensão. Em alguns lugares do corpo, entretanto, é desejável ter um tecido que tenha a rigidez geral da cartilagem, mas que possua além disso grande resistência à tensão, como por exemplo, em uma inserção tendinosa.
Nesses lugares, um tipo de cartilagem chamada fibrocartilagem é comumente encontrada. É muito parecida com a hialina exceto pelo fato de possuir uma excessiva quantidade de colágeno em suas substância intercelular. As fibras colágenas, além disso, tendem a se dispor em plano paralelo à tração a que está submetida a estrutura. Os condrócitos tendem a se dispor em fileiras entre robustos feixes colágenos.
A substância intercelular, entre as células que estão arranjadas em fileiras, e, entre elas e os feixes de fibras, é mais basófila do que a substância intercelular nos feixes de fibras, donde se conclui que, provavelmente, predomine ácido condroitinosulfúrico. A hialina e a fibrocartilagem serão estudadas com outros pormenores em conexão com as articulações.
Pericôndrio
Exceto nas superfícies articulares, onde as superfícies cartilaginosas são expostas umas às outras, ou a outros tecidos conjuntivos da articulação, cada peça, ou estrutura cartilaginosa no organismo é completamente circundada por uma membrana conjuntiva chamada pericôndrio.
A parte mais externa dessa membrana é formada de tecido conjuntivo densamente disposto. Enquanto isso, a parte mais interna da mesma apresenta algumas características de cartilagem; sendo, na verdade, frequentemente difícil discernir de modo exato onde termina o limite interno do pericôndrio e começa a cartilagem.
Em outras palavras, a superfície interna do pericôndrio usualmente mostra uma transição gradual de tecido conjuntivo propriamente dito a tecido cartilaginoso. Isto é devido a que as células da parte mais interna da membrana têm a potencialidade de se transformarem em condroblastos e, como veremos, por seu crescimento contínuo e diferenciação em condrócitos podem ocasionar o aumento de uma peça cartilaginosa.
Desenvolvimento da cartilagem
A cartilagem, como os outros tecidos conjuntivos origina-se do mesênquima. Na área do mesênquima onde se vai desenvolver tecido cartilaginoso, as células mesenquimatosas se encontram em um tipo amorfo de substância intercelular a qual contém poucos elementos figurados.
Para formar cartilagem, as células do mesênquima primeiro se aproximam umas das outras e perdem os prolongamentos citoplasmáticos até então existentes. Precocemente, portanto, a área onde se está formando-a passa a ser constituída de células mesenquimatosas arredondadas as quais se dispõem compactamente situadas, umas em relação às outras.
Outras observações
A próxima modificação a ser observada é que estas células gradualmente se separam de novo. Isto é devido a que elas começam a formar a substância intercelular que, à proporção que vai sendo depositada em quantidades crescentes entre as células, as afasta progressivamente uma das outras, uma vez que as células mesenquimatosas se encontram agora diferenciadas e estão nas lacunas da substância intercelular, são chamadas condrócitos (células cartilaginosas).
Na parte mais interna do pericôndrio, isto é, na parte intimamente aderente ao tecido cartilaginoso, as células mesenquimatosas do pericôndrio não se diferenciam em fibroblastos, antes permanecem em um estado relativamente indiferenciado, mantendo sua capacidade para formar condroblastos e condrócitos. Quando exercem esta capacidade há, sem dúvida, uma transição gradual entre tecido conjuntivo e cartilagem, na parte mais interna do pericôndrio.
A nutrição da cartilagem
A cartilagem é um tecido avascular; não possui capilares dentro de sua substância para prover-lhe nutrição. A invasão da cartilagem por vasos capilares está geralmente associada com a sua calcificação e morte.
Vasos sanguíneos, sem calcificação consequente são vistos ocasionalmente na cartilagem de alguns lugares (ex., placas epifisárias) mas, permanecem cm canais protetores especiais e apenas passam através da mesma em trânsito para o seu destino em outro local.
Os capilares que a nutrem estão, portanto, por fora do pericôndrio. Os condrócitos são, consequentemente, nutridos por meio de substâncias que se difundem através da substância intercelular cm estado de gel, a qual os envolve.
Calcificação da cartilagem
Embora a cartilagem possa suportar uma quantidade moderada de peso, não é suficientemente resistente para constituir, por ela própria, o esqueleto de um organismo grande e pesado.
Assim, à medida que os organismos se tornam maiores e mais pesados, o organismo tem que encontrar alguns meios de prover um tecido que suporte mais peso do que a hialina. Quase pareceria que a primeira experiência tentada a esse respeito pelo organismo foi a de impregnar a substância orgânica de hialina com sais minerais, principalmente sais de cálcio insolúvel.
Substâncias essenciais para o bom funcionamento
À primeira vista, pode parecer que isto seria uma excelente ideia, desde que, se a substância intercelular da cartilagem fosse impregnada com sais minerais para petrificá-la, poderia evidentemente suportar muito mais peso do que no estado de não calcificação.
Mas como tantos bons esquemas, o da calcificação da substância intercelular da cartilagem não deu o resultado que se esperava. Para seu bom funcionamento, dependem os condrócitos do recebimento de substâncias essenciais pela difusão através da fase dispergente, da substância intercelular, em estado de gel que os envolve.
Mecanismo da calcificação na cartilagem
O mineral que é depositado nas cartilagens ou no osso, durante a vida pós-natal deve ser obtido do alimento que é consumido pelo indivíduo. Deve ser absorvido pelas paredes do intestino, transportado pelos vasos sanguíneos e pelo sangue levado para os locais de calcificação.
Nesses deve abandonar o sangue indo para o líquido intersticial do local. Então deve difundir na substância orgânica intercelular da cartilagem e osso, sendo nesse meio concentrado e depositado como “sal ósseo”. Fato notável é que o mineral relativamente insolúvel possa ser transportado pelo sangue a fim de mineralizar o esqueleto sem que se venha a precipitar nas paredes dos vasos.
Fatores do mecanismo de calcificação
Em resumo, o mecanismo da calcificação de cartilagem madura depende provavelmente de muitos fatores, inclusive da disponibilidade de minerais da corrente sanguínea, elaboração local de fosfatase alcalina, a produção local de um substrato para a fosfatase, e uma afinidade de parte da substância orgânica amorfa da cartilagem para os sais ósseos.
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Tecido cartilaginoso – Tecido conjuntivo